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Instituto Espiritualidade e Saúde

O Espírito sopra onde quer

Nas últimas décadas temos visto de modo crescente no meio acadêmico e da assistência em saúde, um debate às vezes acalorado, sobre a importância de se considerar a espiritualidade / religiosidade dos doentes (e dos profissionais que deles cuidam), porém, também observamos a desorientação de muitos em como realizar o cuidado quando se propõe alargar o espectro de atenção para as implicações que a vida espiritual e religiosa podem ter no processo de adoecimento e saúde.

Parte desta desorientação é identificada em diversas pesquisas como situada no despreparo dos profissionais da saúde em seu período de formação acadêmica para lidar com esta ´nova´ fronteira do campo da assistência em saúde. De cara nos deparamos com uma questão que me parece ser discutida de modo insuficiente em nossos congressos e universidades:  Nosso modelo antropológico.

Tal modelo é demasiado importante, pois é a partir dele que nossas pesquisas e a interpretação dos resultados obtidos serão realizados e intervenções serão propostas. No mundo ocidental há uma hegemonia do método positivista, o que leva à hipertrofia da racionalidade e a desconsideração de outros extratos da existência humana, incluindo a espiritualidade.

O ser humano é por demais complexo e a totalidade da nossa forma de ser não pode ser abarcada por um único método de conhecimento. No modelo positivista o ser humano é compreendido como uma máquina e é a partir desta visão antropológica que se desenvolvem nossas formas de tratamento.

É inegável que, no estado boa saúde mental, ninguém concebe a sí mesmo como máquina, mas também é inegável que essa perspectiva adotada pela ciência alcançou avanços quase inimagináveis e nos auxiliou na conquista de maior longevidade. Entretanto, tal conquista veio acompanhada de novas formas de adoecimento psicopatológico, por exemplo, a normopatia, personalidades falso-self, os borderlines, assim como o aumento de casos de depressão e suicídio em razão da perda do sentido da vida, etc. Paul Tillich¹ nos lembra que o ser humano é uno e indivisível em seu ser, mas nem por isso seria adequado abordá-lo sempre a partir de uma única perspectiva epistemológica:

“Desta forma é errado tomar um método de abordagem do ser humano como o único
válido ou subordinar todos os outros métodos a uma única abordagem, seja o método teológico dos
tempos antigos, o método racionalista dos tempos modernos ou o método empírico da atualidade. Por
outro lado, devemos evitar qualquer atomismo de métodos. Deve ser mostrado que em cada método
encontram-se elementos que nos dirigem para outros métodos; que a abordagem empírica
não pode ser utilizada sem os elementos descobertos pelo método racionalista; e que este último, por sua
vez, pressupõe certos elementos fornecidos pela teologia.” (Tillich,1939)

 

Muitas das nossas atividades podem ser medidas e quantificadas, mas certamente não todas e dentre estas inclui-se o campo existencial e nele a vida espiritual. Cada fenômeno deve ser considerado e investigado na região onde ele se apresenta. Querer tratar uma infecção como se fosse um fenômeno subjetivo levantaria suspeitas sobre a saúde mental do médico. De modo semelhante, abordar uma questão existencial como se fosse algo de origem neurológica também seria escandaloso, ainda que, como dissemos no início deste artigo, o ser humano seja uno e indivisível. O ser humano acontece como ente entre fronteiras, diz Gilberto Safra.

Sendo assim, me parece vital que ao considerar a dimensão espiritual religiosa ao ofertar cuidados em saúde, tenhamos o devido preparado de reposicionar nosso modelo antropológico e, por conseguinte nossos métodos de trabalho, para um novo modelo que contemple a vida espiritual do ser humano. E neste caso, como oferecer cuidados em saúde ampliados para a espiritualidade / religiosidade? Em primeiro lugar é imprescindível passarmos a integrar capelães nas equipes multidisciplinares, pois estamos diante de uma área de intersecção entre a ciência e o espiritual religioso (e não haverá como ocupar o lugar das religiões e seus ministros sob pena de criarmos mais problemas do que benefícios). Além disso, eu diria que muito mais do que formarmos bons técnicos é preciso que nossa sociedade volte a formar pessoas.

 

¹Tillich, P. A concepção de homem na filosofia existencial. 1939
Paulo Antonio da Silva Andrade

Psicólogo clínico e hospitalar graduado pela Universidade Paulista.

Especialista em psicologia hospitalar pelo HCFMUSP

Mestre em psicologia clínica pela PUC – SP

Psicólogo do IES